Competição internacional ensina ciência, tecnologia, engenharia e matemática para crianças e adolescentes de forma mais empolgante
Escrito por Ana Luiza Queiróz
Transcrito por Eduarda Gouvêa
Revisado por Isadora Guerra
Você já ouvir falar sobre o F1 in Schools? Se a resposta for não, essa é uma ótima oportunidade para saber mais. Trata-se de uma competição internacional que objetiva ensinar ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) para crianças e adolescentes em idade escolar (nove a 19 anos) de uma forma mais empolgante. A ideia é ajudar a mudar as percepções dessas disciplinas criando um ambiente de aprendizado divertido e emocionante para os jovens, a fim de desenvolver uma visão bem-informada sobre carreiras em engenharia, Fórmula 1, ciência, marketing e tecnologia. O projeto é da F1 in Schools Ltda, uma empresa social que trabalha com diversos parceiros da indústria mundial.
A competição conta com o apoio de toda comunidade da F1, em particular de Stefano Domenicali (atual CEO da F1), além das próprias equipes. Elas, inclusive, abrem os paddocks e as fábricas aos alunos. A saber: este é o único projeto educacional global considerado o maior e mais bem-sucedido programa STEM escolar do mundo.
De forma resumida, os alunos (divididos em grupos de três a seis integrantes) devem projetar e fabricar um carro em miniatura movido a ar comprimido a partir do bloco modelo oficial da F1. Eles devem utilizar ferramentas para colaborar, projetar, analisar, fabricar, testar e, em seguida, competir entre si. Os carros são movidos por cartuchos de CO2 e presos a uma pista por um fio de náilon. O mais rápido vence!
Assim como na F1, as equipes precisam angariar patrocínios e gerenciar orçamentos para financiar pesquisas, viagens e acomodações. O desafio inspira os alunos a aprender sobre física, aerodinâmica, design, manufatura, branding, gráficos, patrocínio, marketing, liderança, trabalho em equipe, estratégia financeira, etc. Além disso, as equipes desenvolvem um projeto social, que pode ser usado como critério de desempate no resultado final. Os recursos captados são investidos na administração, desenvolvimento e expansão do desafio. Toda a renda é aplicada de acordo com as diretrizes estabelecidas pela Fórmula 1.
A equipe vencedora recebe o Troféu do Campeonato Mundial F1 in Schools, bem como bolsas de estudo para diplomas de engenharia na UCL Mechanical Engineering, na Universidade de Huddersfield e na City, na Universidade de Londres. Também há premiação para o Carro com Melhor Engenharia. Para participar, basta acessar o site https://www.f1inschools.com e seguir o passo a passo da inscrição.
Patronos
O projeto conta com padrinhos de peso, como James Allen, presidente da Motorsport Network (emissora de F1). “Tenho orgulho de servir como patrono do F1 nas Escolas desde os primeiros dias. À medida que o esporte se molda para o futuro, a F1 in Schools é uma parte fundamental para garantir que ele mantenha sua relevância”, declarou.
Outro nome prá lá de especial é nada mais, nada menos que Adrian Newey, diretor técnico da Red Bull Technology. “Fico extremamente encorajado a ver como esses jovens enfrentam os desafios de trabalho, projeto, análise de engenharia, fabricação, teste e marketing, além de terem que desenvolver uma variedade de habilidades de apresentação. Todos eles são encorajados a progredir no caminho da tecnologia. É reconfortante saber que nosso futuro de engenharia e manufatura está em boas mãos”, disse Newey.
Ron Meadows, diretor desportivo da Mercedes-AMG Petronas Formula One Team, também se orgulha do projeto. “Estamos muito satisfeitos em apoiar o F1 in Schools e o valioso trabalho que eles fazem para incentivar os jovens a se envolverem com nosso esporte e com as disciplinas STEM desde muito cedo”, falou. “Esperamos que alguns desses participantes se tornem os inovadores da Fórmula 1 e do automobilismo do futuro. Todos na Mercedes-AMG Petronas estão ansiosos para ver seus designs mais recentes”, finalizou Meadows.
Rob Smedley, diretor de Sistemas de Dados da Formula One Management Ltda, também é um dos patronos. “Estou extremamente orgulhoso por ter recebido esta oportunidade de apoiar uma iniciativa tão grande. Todos nós devemos estar cientes da responsabilidade que temos em nutrir o futuro do nosso esporte, que está nas mãos dos jovens entusiastas que aspiram um dia ocupar cargos de engenharia sênior dentro dos times. Esse talento precisa ser apoiado e orientado em uma fase tão crucial para garantir o correto desenvolvimento e o F1 in Schools está fazendo exatamente isso”, analisou Smedley. Vale lembrar que ele trabalhou com o brasileiro Felipe Massa por mais de cinco anos.
Representando as mulheres, Claire Williams, anteriormente vice-diretora da equipe da Williams Racing. “O programa os expõe ao trabalho necessário para criar, produzir e administrar uma equipe como a Williams, mas também os equipa com uma variedade de habilidades para a vida. É um esquema único dedicado a reconhecer e apoiar uma nova geração de profissionais”, resumiu a patrona.
Behind the track
Na prática, os alunos criam uma escuderia do zero. Primeiramente, precisam formar uma equipe, pensar em um nome e decidir os cargos. Depois, eles devem planejar e preparar um plano de negócios, desenvolver um orçamento e levantar patrocínios. As equipes são incentivadas a colaborar com a indústria e criar vínculos comerciais. Usando o software 3D CAD (Computer Aided Design), o time tem a missão de projetar um carro de F1 do futuro de acordo com as especificações definidas pelo Comitê Internacional de Regras, assim como na F1.
Posteriormente, a aerodinâmica é analisada quanto ao coeficiente de arrasto em um túnel de vento virtual usando o Software de Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD). Com a ajuda do software 3D CAM (Computer Aided Manufacture), a equipe deve avaliar a estratégia de usinagem mais eficiente para fazer o carro.
Logo depois vem uma parte mais prática, onde a aerodinâmica é testada em túneis de vento e fumaça. Os jovens ainda precisam montar uma tela informativa mostrando seus trabalhos em todas as etapas do projeto, além de pensar na identidade das equipes.
Por fim, os carros são submetidos ao parque fechado, onde os juízes examinam todas as dimensões para verificar se cumprem as regras e regulamentos (todas as regras e regulamentos da temporada estão no site F1 in Schools). Se tudo estiver em conformidade, hora de testar as máquinas em pista.
As equipes competem com seus carros entre si na pista oficial de competição F1 in Schools de 20 metros. Os pontos são concedidos para corridas de tempo de reação, bem como corridas de lançamento manual.
Talento brasileiro
A competição está em operação em mais de 40 países, inclusive o Brasil. O desafio ocorre anualmente, com finais regionais e nacionais. Os vencedores gerais são convidados a competir nas finais mundiais, que acontecem em um local diferente a cada ano, geralmente em um Grande Prêmio de F1. Em 2023, o GP escolhido é o de Singapura (15 a 17 de setembro, Marina Bay Urban Circuit).
A iniciativa tem apresentado bons resultados, tanto que tem aumentado a entrada de alunos nas engenharias, por exemplo. Também existem muitas histórias de sucesso que passaram pela iniciativa e alcançaram posições em equipes de Fórmula 1. À medida que o F1 in Schools avança para o futuro, a ideia é continuar com a expansão para mais e mais países.
No Brasil, a competição iniciou em 2019 e desafia estudantes de nove a 19 anos matriculados em escolas SESI, escolas técnicas e escolas de ensino normal. Este ano, uma das etapas regionais ocorre nos dias 24, 25 e 26 de março de 2023, em São Paulo, no campus da Universidade Mackenzie.
Uma das equipes brasileiras que vai participar da disputa é a Da Vinci Escuderia (@davinci.escuderia.ifpr), nascida em Curitiba, no Paraná, mais precisamente no Instituto Federal do Paraná (IFPR). O nome do time foi escolhido pelo fato de todos os integrantes serem da área de mecânica e o projeto estar dentro da engenharia, homenageando um dos maiores ícones da história: Leonardo Da Vinci.
Ao todo, são cinco alunos, três deles mulheres. Ana Júlia, 18 anos, é responsável pelo marketing e pela engenharia, além de ser grande fã de Fórmula 1. Fernanda, 17 anos, cuida da gestão de projetos. Letícia, 17 anos, atua no marketing e no design. Já Vitor, 19 anos, trabalha na engenharia. Por fim, Jair, 18 anos, é responsável pelo design do carro e pelo empreendedorismo social.
“Eu não me identifiquei muito com a área de mecânica, mas eu adoro a Fórmula 1, então para mim o processo foi diferente”, contou Ana Júlia, aos risos. Mas a brincadeira fica só na hora de contar a história da equipe, porque na rotina de trabalho todos eles são muito bem organizados. “A gente usa um aplicativo onde eu, como gestora de projetos, vou colocando as coisas que têm que fazer e daí a pessoa pode marcar como concluído, colocar as informações lá”, explicou Fernanda. “Também temos muitas reuniões, principalmente com a professora orientadora do projeto”, emendou. Fernanda se referiu à Daniela Rosa, uma das responsáveis por acompanhar o grupo. Segundo os integrantes, haveria 16 equipes brasileiras participando do desafio em 2023.
Os cinco estão ansiosos com a chegada da etapa regional e não escondem a empolgação. “Eu estou bem animado, porque eu nunca participei de nenhum evento que tivesse que ir para outro estado em uma competição. Espero que dê tudo certo e que a gente consiga chegar lá com tudo pronto. A emoção é grande, sim”, desabafou Vítor.
Conforme o cronograma da organização, no primeiro dia o carro será analisado. No segundo dia, os alunos montarão um estande com tudo o que produziram durante o desafio. Ocorre ainda a abertura oficial, além de duas baterias de corrida e das apresentações dos projetos. No terceiro dia, na parte da manhã, as equipes recebem os resultados e descobrem quem passou para a fase de mata-mata. Ocorre, então, a bateria de corrida final. Logo após, os juízes anunciam quem vai para o mundial. Boa sorte a todas as equipes e viva a paixão pelo automobilismo!
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